------------------------------------------------------------------------------------------------------
A HISTÓRIA DA GEOMETRIA ANALÍTICA.

Hipérboles são uma das frentes de estudo da Geometria Analítica.
http://www.brasilescola.com/matematica/geometria-analitica.htm
------------------------------------------------------------------------------------------------------
A Matemática como Arte
A HISTÓRIA DA GEOMETRIA ANALÍTICA.

Hipérboles são uma das frentes de estudo da Geometria Analítica.
A Geometria Analítica, também denominada de coordenadas geométricas, se baseia nos estudos da Geometria através da utilização da Álgebra. Os estudos iniciais estão ligados ao matemático francês René Descartes (1596 -1650), criador do sistema de coordenadas cartesianas.
Os estudos relacionados à Geometria Analítica datam seu início no século XVII, Descartes, ao relacionar a Álgebra com a Geometria, criou princípios matemáticos capazes de analisar por métodos geométricos as propriedades do ponto, da reta e da circunferência, determinando distâncias entre eles, localização e pontos de coordenadas.
Uma característica importante da G.A. se apresenta na definição de formas geométricas de modo numérico, extraindo dados informativos da representação. Com base nesses estudos, a Matemática passa a ser vista como uma disciplina moderna, capaz de explicar e demonstrar situações relacionadas ao espaço. As noções intuitivas de vetores começam a ser exploradas de forma contundente, na busca por resultados numéricos que expressem as ideias da união da Geometria com a Álgebra.
Os vetores constituem a base dos estudos do espaço vetorial, objetos que possuem as características relacionadas a tamanho, direção e sentido. Os vetores são muito utilizados na Física, como ferramenta auxiliar nos cálculos relacionados à Cinemática Vetorial, Dinâmica, Campo Elétrico entre outros conteúdos relacionados.
Os cientistas Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz concentraram estudos na Geometria Analítica, que serviu como base teórica e prática para o surgimento do Cálculo Diferencial e Integral, muito utilizado atualmente na Engenharia.
Os estudos relacionados à Geometria Analítica datam seu início no século XVII, Descartes, ao relacionar a Álgebra com a Geometria, criou princípios matemáticos capazes de analisar por métodos geométricos as propriedades do ponto, da reta e da circunferência, determinando distâncias entre eles, localização e pontos de coordenadas.
Uma característica importante da G.A. se apresenta na definição de formas geométricas de modo numérico, extraindo dados informativos da representação. Com base nesses estudos, a Matemática passa a ser vista como uma disciplina moderna, capaz de explicar e demonstrar situações relacionadas ao espaço. As noções intuitivas de vetores começam a ser exploradas de forma contundente, na busca por resultados numéricos que expressem as ideias da união da Geometria com a Álgebra.
Os vetores constituem a base dos estudos do espaço vetorial, objetos que possuem as características relacionadas a tamanho, direção e sentido. Os vetores são muito utilizados na Física, como ferramenta auxiliar nos cálculos relacionados à Cinemática Vetorial, Dinâmica, Campo Elétrico entre outros conteúdos relacionados.
Os cientistas Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz concentraram estudos na Geometria Analítica, que serviu como base teórica e prática para o surgimento do Cálculo Diferencial e Integral, muito utilizado atualmente na Engenharia.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
A Matemática como Arte
.
O prestígio de que gozam os matemáticos em
todos os países civilizados não é fácil de entender. O que é valorizado pela
generalidade dos homens ou é útil ou dá prazer, ou ambas as coisas. A
agricultura é sem dúvida uma ocupação válida, assim como tocar piano. Mas porque
serão as atividades dos matemáticos consideradas importantes? Pode dizer-se que
a matemática é válida pelas suas aplicações. Todos sabemos que a civilização
moderna, numa extensão sem precedentes, depende da ciência e, grande parte, essa
ciência seria impossível na ausência de matemáticas altamente desenvolvidas.
Isto é sem dúvida uma consideração importante. É também verdade que a matemática
tem beneficiado com a crescente importância atribuída à ciência como
consequência das "magnificas" capacidades reveladas na última guerra. Mas é
duvidoso que esta consideração por si só seja adequada para explicar a elevada
posição que a matemática tem tido ao longo de grande parte da sua história. Por
outro lado, não parece que possamos atribuir muita importância à ideia defendida
por muitos matemáticos de que a sua ciência é uma arte deliciosa. Esta afirmação
é sem dúvida justificada. Mas o facto de que, muito poucos indivíduos retirem
grande prazer em incompreensíveis projectos não é razão para que o homem comum
os deve admirar e suportar. O professorado do xadrez não está estabelecido, mas
existem provavelmente mais pessoas que apreciam as "belezas" do xadrez do que as
da matemática. A posição actualmente atribuída à matemática pelo público não
matemático deve-se em parte à utilidade da matemática e em parte à persistência,
numa forma mais ou menos vaga, de ideias idosas e erradas relativas ao seu real
significado. Apenas em tempos mais recentes, o correcto estatuto da matemática
foi descoberto. Contudo, existem ainda muitos e aspectos importantes desta
maravilhosa actividade que continuam misteriosos.
É provável que a matemática tenha surgido com
Pitágoras. Não há nenhuma evidência de que a actividade a que chamamos
raciocínio matemático fosse reconhecida e praticado antes de Pitágoras. É certo
que alguns resultados aritméticos seriam há muito conhecidos. Mas nem a
geometria nem a álgebra tinham sido criadas. As fórmulas geométricas utilizadas
pelos antigos egípcios, por exemplo, tinham fundamentalmente a ver com problemas
de sobrevivência e eram obtida de forma empírica. Estavam em geral erradas e não
eram acompanhadas por demonstrações. É estranho que esta particular
possibilidade da mente tenha sido descoberta tão tarde, pois é completamente
independente de circunstâncias externas. Até a música, a mais independente
usualmente chamadas de artes, é mais dependente do ambiente que a matemática.
Contudo, tanto a música como a matemática, as duas mais "subjectivas" criações
humanas, foram particularmente tardias e lentas no seu desenvolvimento. E assim
como nos é impossível entender o que a música rudimentar significava para os
gregos, igualmente é impossível compreender as dificuldades da mente
pré-matemática. O entusiasmo musical de Platão está tão distante de nós como as
dificuldades demonstradas por aquele Imperador Chinês que não conseguia ser
convencido por demonstrações abstratas de que o volume de uma esfera varia
consoante o quadrado do raio. Teve várias esferas de diferentes tamanhos cheias
de água e pesadas. Esta era a sua concepção de demonstração. E isto deve ter
sido típico no pensamento antigo. Menosprezaram uma faculdade assim como os
Gregos menosprezaram o sentido de harmonia.
Não é pois surpreendente que, quando a mente
toma conhecimento pela primeira vez deste insuspeito poder, não tenha
compreendido a sua verdadeira natureza. Aparentou ser muito mais significativo,
ou pelo menos, significativo de maneira diferente do que era na realidade. Para
os Pitagóricos, deslumbrados pelo charme estético dos teoremas que descobriram,
o número tornou-se o princípio de todas as coisas. O número era suposto ser a
verdadeira essência do real. Tudo o que podia ser previsto eram aspectos do
número. O número um é, neste sentido, aquilo que chamamos de razão, porque a
razão é invariável e a verdadeira essência da invariabilidade é expressa pelo
número um. O número dois, por outro lado, é ilimitado e indeterminado. A
"opinião" é a expressão do número dois. A essência do casamento é expressa pelo
número cinco, porque cinco se alcança pela combinação de três e dois, sendo que
o primeiro número é masculino e o segundo é feminino. O número quatro é a
essência da justiça, pois quatro é o produto de iguais. Para compreender esta
perspectiva é necessário entrar nessa condição mental em que as analogias
representam a realidade. Estranhas expressões como, masculino e feminino, claro
e escuro, recto e curvo, tornaram-se então expressão de algum princípio profundo
de oposição que constitui o mundo. Existem diversos escritores místicos e
semi-místicos nos nossos dias que conseguem pensar desta maneira e é necessário
admitir que não é fora do comum encontrar pensamentos destes, de outra maneira
ortodoxos, que conseguem adaptar este tipo de raciocínio sem qualquer
desconforto. Até Goethe no Farbenlehre, considera que o triângulo tem um
significado místico.
Enquanto o verdadeiro estatuto lógico das
proposições matemáticas permaneceu desconhecido foi possível que diversos
matemáticos conjecturassem que eles tinham algum relacionamento profundo com a
estrutura do universo. As proposições matemáticas eram supostas ser verdadeiras
independentes das nossas mentes pressuposto a partir do qual foi deduzida a
existência de Deus. Na realidade esta doutrina era um refinamento das fantasias
Pitagóricas, defendida por muitos que não acreditavam nas propriedades místicas
dos números. Mas a visão místico dos números continuou a florescer durante
muitos séculos. Até Santo Agostinho, quando se referiu à perfeição do número
seis, disse:
"seis é um número perfeito em si mesmo, e não
por causa de Deus ter criado todas as coisas em seis dias. Da mesma maneira, a
tese inversa segundo a qual Deus criou as coisas em seis dias por seis ser um
número perfeito, também não é verdadeira porque seis continuaria a ser perfeito
mesmo que o trabalho dos seis dias não existisse".
Com base em especulações deste tipo, a doutrina
Pitagórica desenvolveu-se, por um lado, de forma respeitável, numa filosofia das
verdades necessárias, por outro lado, em imbecilidades cabalísticas. Muito bons
matemáticos tornaram-se cabalistas. O famoso Michael Stifel, um dos mais
aclamados algebristas do século XVI, considerou que a parte mais importante do
seu trabalho foi a interpretação cabalística dos livros proféticos da Bíblia.
Este método granjeou um grande prestígio, como se pode verificar pela crença
generalidade de que o mundo iria profeticamente ter o seu termino em 3 de
Outubro, de 1533. O resultado foi que muitas pessoas abandonaram as suas
habitações e gastaram os seus bens tendo constado que, quando a data chegou e
passou, estavam arruinados. Figuras geométricas como o polígono em estrela, eram
supostas ter um profundo significado. Mesmo Kepler, após demonstrar as suas
capacidades matemáticas com perfeito rigor, continua explicando o seu uso como
amuletos e conjuras. Pode encontrar-se outro sinal da persistência desta forma
de olhar as entidades matemáticas nos primórdios do desenvolvimento das séries
infinitas, que foi amparado pelo exagero atribuído às operações matemáticas. De
tal forma que, no tempo de Leibnitz, se acreditava que a soma de um número
infinito de zeros era igual a œ, e se tentava que esta óbvia idiotice fosse
plausível dizendo que era a analogia matemática da criação do mundo a partir do
nada.
Existem evidências suficientes da existência de
uma tendência muito ampla para atribuir significado místico às entidades
matemáticas. E existem diversos indícios de que esta tendência persiste mesmo
nos nossos dias. É possível que, na altura, o prestígio dos matemáticos não
fosse desassociado do prestígio usufruído pelos mestres do oculto. A posição
atribuída aos matemáticos tem sido, em grande parte, devida às superstições da
humanidade, embora sem qualquer dúvida ser justificada de forma racional.
Durante um longo período, particularmente na Índia e na Arábia, os homens
tornavam-se matemáticos para serem astrónomos e tornavam-se astrónomos para
serem astrólogos. O objectivo das suas actividades era a superstição, não a
ciência. Até mesmo na Europa, e durante muitos anos depois do princípio do
Renascimento, a astrologia e assuntos semelhantes eram importantes justificações
para as pesquisas matemáticas. Já não acreditamos na astrologia ou hexágonos
místicos, mas ninguém que tenha conhecimento da imaginação de algumas pessoas
não ligadas à ciência, pode deixar de suspeitar que o Pitagorismo ainda não está
morto. Quando consideramos a outra justificação da derivação da matemática pelo
olhar dos Pitagóricos - a sua justificação com base no facto de que ela oferece
os mais claros e indiscutíveis exemplos de verdades necessárias - encontramos
esta perspectiva longe de extinta, admitida ainda por eminentes professores de
lógica. E, no entanto, a geometria não euclediana, com já um século de vida,
mostrou que essa perspectiva era bastante indefensível. Este ponto de vista é
bem expresso por Descartes, numa famosa passagem da suas Quinta Meditação:
"eu imagino um triângulo e, ainda que uma tal
figura não exista em nenhum lugar do mundo fora do meu pensamento, nem tenha já
mais existido, não deixa de existir uma certa natureza ou forma, ou essência
determinada dessa figura a qual é imutável e eterna, que eu não inventei e que
não depende de nenhuma maneira do meu espírito. Assim se explica que se possam
demonstrar diversas proposições desse triângulo, a saber que os seus três
ângulos são iguais a dois rectos, que o maior ângulo é correspondeste ao maior
lado e outras semelhantes as quais quer eu queira ou não, reconheço muito
claramente e muito evidentemente pertencerem ao triângulo ainda que eu nunca
tenha pensado nisso de nenhuma maneira quando imaginei pela primeira vez um
triângulo, sendo portanto impossível dizer que eu fiz ou inventei essas
propriedades."
Um triângulo, segundo Descartes, não depende de
forma alguma de uma mente, tem uma existência eterna completamente independente
do nosso conhecimento. As suas propriedades são descobertas pela nossa mente mas
não dependem de forma alguma dela. Esta forma de encarar as entidades
geométricas durou 200 anos. Para os platonistas, as proposições geométricas
expressam verdades eternas, relacionadas com o mundo das Ideias, um mundo à
parte, separado do mundo sensível. Para aos seguidores de Santo Agostinho as
ideias platonistas transformam-se nas ideias de Deus; e para os seguidores de
São Tomás de Aquino tornaram-se aspectos do mundo divino. Durante toda a
filosofia escolástica a verdade necessária das proposições geométricas
desempenha um papel muito importante e, como já dissemos, existem filósofos dos
nossos dias que consideram os axiomas da geometria euclideana como verdades
irrefutáveis. Se esta perspectiva se justifica, então as faculdades matemáticas
permitem-nos aceder a um mundo eterno, mas não sensível. Antes das descobertas
dos matemáticos, esse mundo era-nos desconhecida mas contudo existia Pitágoras
não inventou a matemática mais do que Colombo inventou a América. Será que esta
é uma descrição verdadeira da natureza matemática? É a matemática realmente um
corpo de conhecimento sobre um mundo supersensível? Alguns de nós estarão
recordados de certas afirmações feitas sobre a música. Alguns músicos ficaram
tão impressionados pela extraordinária impressão da "inevitabilidade" de alguns
trabalhos musicais que declararam dever existir uma espécie de céu no qual as
frases musicais já existam. O grande músico será aquele que descobre essas
frases - que as ouve por assim dizer. Os músicos inferiores ouvem-nas de uma
forma imperfeita e por isso dão uma contribuição confusa e distorcida da
realidade pura e celestial. Digamos que as faculdades para compreender a música
são raras mas que, pelo contrário, as faculdades para entender triângulos
celestiais, parecem estar presentes em todos os homens.
Estas noções, no que dizem respeito à
geometria, estão fundadas na suposta necessidade dos axiomas de Euclides. Os
postulados fundamentais da geometria euclediana eram considerados, até ao
principio do século XIX, pela generalidade dos matemáticos e filósofos como
conceitos necessários. Não se tratava apenas de reconhecer que a geometria
euclediana era a geometria do espaço existente mas sim que era necessariamente a
geometria de qualquer espaço. Contudo, desde cedo se havia constado que existia
uma falha neste edifício aparentemente impecável. A conhecida definição das
paralelas não suficientemente obvia, e já os seguidores gregos de Euclides
haviam feito tentativas para a melhorar. Também os Árabes, quando entraram em
contacto com as matemáticas gregas, perceberam que o axioma das paralelas era
insatisfatório. Ninguém duvidava que fosse uma verdade necessária, mas
pensava-se que deveria haver uma maneira de o deduzir a partir dos outros mais
simples axiomas de Euclides. Com o difusão das matemáticas na Europa surgiram
imensas tentativas de demonstração do axioma das paralelas. Algumas eram
milagres de ingenuidade, mas é possível mostrar que, em qualquer caso, se partia
sempre de pressupostos que eram equivalentes a aceitar o axioma das paralelas.
Uma das mais conceituadas investigações foi a do padre Jesuíta Girolamo Saccheri
cujo tratado apareceu no principio do século XVIII. Saccheri era um lógico
extremamente hábil, também capaz de fazer pressuposições injustificadas. O seu
método consistiu em desenvolver as consequências da negação do axioma das
paralelas de Euclides mantendo os outros axiomas. Desta forma, esperava
desenvolver uma geometria contraditória, pois partia do princípio indubitável de
que o axioma das paralelas era necessariamente verdadeiro. Mas, apesar de
Saccheri ter lutado arduamente, não conseguiu ter sucesso em contradizer-se. O
que realmente fez foi lançar os fundamentos da primeira geometria não
euclediana. Apesar disto e embora D'Alembert tivesse expresso a opinião de que
todos os matemáticos do seu tempo declaravam que o axioma das paralelas era o
"escândalo" da geometria, ninguém parecia ter sérias dúvidas sobre isso. O
primeiro matemático a tomar consciência de que o axioma das paralelas podia ser
negado e, mesmo assim, ter-se uma geometria bem estruturada foi Gauss. Mas Gauss
depressa constatou como era vacilante, como era chocante, o que tinha feito e
teve medo de publicar a sua demonstração. Estava reservado para o russo
Lobachevsky e para o húngaro Bolyai, a publicação da primeira geometria não
euclediana. Tornou-se imediatamente óbvio que os axiomas de Euclides não eram
necessidades do pensamento mas algo bastante diferente e que não existia razão
alguma para supor que os triângulos tinham uma existência celestial.
Os desenvolvimentos posteriores da geometria
não euclediana e a sua aplicação aos fenómenos físicos por Einstein mostraram
que a geometria euclediana, não só não era única, como não era a geometria mais
conveniente para aplicar ao espaço existente. E com isto deu-se obviamente uma
profunda mudança no estatuto atribuído às entidades matemáticas e no significado
atribuído às actividades matemáticas. Podemos partir de qualquer conjunto de
axiomas desde que sejam consistentes uns com os outros e trabalhar as suas
consequências lógicas. Fazendo-o, criamos um ramo da matemática. As definições e
postulados elementares não são dadas pela experiência nem são necessidades de
pensamento. O matemático é inteiramente livre, dentro dos limites da sua
imaginação, para construir os mundos que desejar. O que vai imaginar é
resultante do seu próprio capricho. O matemático não descobre os principais
fundamentos do universo nem toma contacto com as ideias de Deus. Se consegue
encontrar na experiência conjuntos de entidades matemáticas que obedecem ao
mesmo esquema lógico das suas entidades matemáticas, então aplica a sua
matemática ao mundo real, cria um ramo da ciência. Porque razão deve o mundo
real obedecer às leis da lógica? Porque razão deve a ciência ser possível? Não
são questões fáceis. Inclusivamente existem indicações nas teorias da física
moderna que levam alguns homens de ciência a duvidar se, finalmente, o universo
se vai revelar racional. Mas, ainda que assim possa parecer, não existem
melhores razões para supor que os fenómenos racionais têm de obedecer a uma
geometria particular do que para supor que a música das esferas, assim a
possamos nós alguma vez ouvir, tem de estar em escala diatónica.
Desde então, a matemática é uma actividade
completamente livre, independente do mundo real, mais uma arte do que uma
ciência. É tão independente do mundo exterior como a música; e contudo, ao
contrário da música, serve para ilucidar fenómenos naturais, é ter "subjectiva"
como um produto criado livremente pela imaginação. Não é difícil descobrir que
os matemáticos são conduzidos pelo mesmos incentivos e experimentam as mesmas
satisfações que os outros artistas. A literatura da matemática está cheia de
termos estéticos e não é raro que os matemáticos digam que está menos
interessados nos resultados do que na beleza dos métodos pelos quais fundamenta
esses resultados.
Mas dizer que a matemática é uma arte não é
dizer que ela é um mero divertimento. Arte não é algo que exista apenas para
satisfazer uma "emoção estética". A arte digna desse nome revela-nos alguns
aspectos da realidade. Isso é possível porque a nossa consciência e o mundo
envolvente não são duas entidades independentes. A ciência avançou
suficientemente para que possamos pensar que o mundo exterior é criação nossa, e
entendemos mais do que criámos entendendo as leis da nossa própria existência,
as leis de acordo com as quais criamos. Não há nenhuma razão para imaginar que
existe um armazém celestial de frases musicais, mas é verdade que a música pode
revelar-nos uma realidade mais profunda do que a do senso comum. "Aquele que
entende o significado da minha música", terá dito Beethoven, "é aquele que está
livre das misérias que afligem outros homens". Podemos não saber o que Beethoven
queria dizer, mas é evidente que a música era para ele algo que tinha
significado, algo que revelava uma realidade que não podia ser normalmente
perceptível. E parece que o matemático ao criar a sua arte, está a exibir aquele
movimento das nossas mentes que criou o "espaço temporal" que conhecemos. As
matemáticas, tanto como a música ou qualquer outra arte, são um dos meios pelo
qual nos elevamos a uma completa "consciência" de nós próprios. O significado da
matemática reside precisamente no facto de ser uma arte que nos informa da
natureza das nossas próprias mentes e, do muito que depende das nossas mentes.
Não nos torna capazes de expressar algumas regiões remotas da existência eterna
mas ajuda-nos a mostrar quão longe aquilo que existe depende da nossa forma de
existência. Somos os criadores das leis do universo. É possível que não possamos
experimentar nada do que criamos e que a maior das nossas criações matemáticas
seja o próprio universo. E assim regressamos a uma espécie de Pitagorismo
invertido.
A matemática tem um profundo significado no
universo, não porque exibe os princípios pelos quais nos regemos, mas porque
exibe os princípios que lhe impomos. Mostra-nos as leis da nossa própria
existência e as condições necessárias da experiência. E não será verdade que as
outras artes fazem algo de similar nas regiões da experiência que não dependem
do intelecto? Pode acontecer que o significado que Beethoven declarou que a sua
música possuí seja o de que, apesar de o homem viver num universo divergente, a
verdade é que tanto na experiência na sua totalidade como naquela parte que é
objecto da ciência, aquilo que o homem encontra é aquilo que criou, que o
espírito do homem é de facto livre, eternamente submetido apenas aos seus
próprios decretos. Seja como for, é certo que a função real da arte é a de
incrementar a nossa consciência de nós mesmos, tornar-nos mais conscientes do
que somos e, portanto, do que é realmente o universo em que vivemos. E porque a
matemática, à sua maneira, também desempenha esta função, ela não é apenas
esteticamente bela mas profundamente significativa. É uma arte, e uma grande
arte. É aí que, para além da sua utilidade na vida prática, a sua estima deve
ser baseadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário